
Masturbação Infantil: como os adultos devem agir? - por Thainá Rocha
Desde os primeiros meses de vida, a criança começa uma jornada pela exploração do próprio corpo, chegando às zonas erógenas entre os 4 e 6 anos de idade. É nessa idade que as crianças começam a perceber as diferenças que existem entre meninos e meninas e a se identificar com a figura do pai ou da mãe. Para a criança, a masturbação é apenas uma manifestação curiosa de exploração biológica do corpo, e, quando percebe que é prazerosa, passa a repetir. Diferente do adulto, em que o prazer está além do físico, para a criança, é apenas uma experiência sensorial.
Apenas uma experiência sensorial? Sim! É uma forma de exploração corporal como, por exemplo, o bebê faz ao colocar a mão na boca ou quando uma criança coloca uma semente do feijão no ouvido ou até mesmo morde o coleguinha para poder conhecer o corpo do outro.
Lidar com a masturbação infantil ou atos de interesse nos genitais de outras crianças é uma dificuldade para muitas pessoas, pois, para muitos adultos, a situação ainda é tratada com preconceito e cercada de muitos tabus. Os pais e professores geralmente não sabem lidar com a situação, que deve ser encarada como algo natural – sem repressão. É consenso entre especialistas que bater, xingar e reprimir não é o caminho para tratar a masturbação na infância.
Portanto, o que o adulto tem que ter clareza é que conhecer o próprio corpo e explorá-lo faz parte do desenvolvimento infantil. Ou seja: ao contrário dos adultos e adolescentes, as crianças não agem com malícia ao praticar a masturbação infantil. É descoberta!
Na prática:
- A função dos pais é acompanhar e orientar os filhos, sem reprimi-los ou falar que isso é errado.
- É preciso ajudar os pequenos a entender que o toque nos órgãos sexuais não é para ser praticado na frente das pessoas, sem repreendê-los e sem erotizar a situação.
- A intervenção a respeito do assunto, quando necessária, deve ser através de uma conversa a sós com a criança. Como a criança irá compreender que é algo íntimo se você fala e chama a atenção a respeito deste assunto com a criança na frente de todo mundo? Incoerente, não acham? A abordagem deve ocorrer em particular, com uma conversa tranquila e natural. Os meninos e meninas precisam entender que o pênis e a vulva são partes do corpo para serem lidados quando eles estiverem sozinhos. Isso também ajuda as crianças a perceberem que o corpo é exclusividade delas.
- Nunca se deve bater, xingar ou reprimir as crianças para tratar a masturbação infantil, mesmo se o comportamento for insistente. A criança ainda não entende que, moralmente, o comportamento em público não é bem aceito. E é responsabilidade dos pais ter calma e discernimento para ajudá-la a compreender isso.
- Também devem ficar atentos à intensidade com que acontece. O ato se torna exagerado e motivo para preocupação quando a criança só quer fazer isso e nada mais. Nesses casos, a família deve procurar um atendimento especializado.
- Se o ato se dá de forma frequente, os pais também precisam observar em que situação a masturbação acontece: Acontece antes ou depois do quê? Como está o estado emocional da criança?
- Para orientar e responder as perguntas das crianças, os pais devem atentar para a fase de desenvolvimento da criança, prestando atenção na faixa etária dela. A dica principal é: responda na medida dos interesses delas. Nem a mais, nem a menos!
Para crianças:
Segue algumas dicas de livros que abordam temas de maior curiosidade da criança: as diferenças dos corpos de meninos e meninas, como o bebê entra e como o bebê sai. É uma excelente forma de abordar esses temas com as crianças!
'Mamãe, como eu nasci?', de Marcos Ribeiro, aborda o tema da masturbação infantil. Em linguagem descomplicada e com ilustrações que auxiliam o entendimento dos pequenos, explica a diferença entre os corpos masculino e feminino, como acontece a relação sexual, o que é gravidez e até os tipos de parto.
De Thierry Lenain, o trio 'Ceci quer um bebê', 'Os beijinhos da Ceci' e 'Ceci tem pipi?' aborda, abordam também grandes temas de curiosidade das crianças.
De Babette Cole, ‘Mamãe nunca me contou’ aborda temas que despertam a curiosidade das crianças, mas que as respostas demoram a chegar. Em ‘Mamãe botou um ovo’, os pais são confrontados pelos próprios filhos nas metáforas que usam para explicar de onde vem o bebê: “Nós achamos que vocês não sabem como os bebês são feitos de verdade. Então, vamos fazer uns desenhos pra mostrar como é”. A frase é proferida pelo casal de irmãos que dá uma “aula de sexo” para o pai e a mãe.
Para adolescentes:
Uma sugestão recomendada aos pais de adolescentes é o Manual de Educação em Sexualidade da Unesco: 'Cá entre nós: Guia de Educação Integral em Sexualidade Entre Jovens'.
Thainá da Rocha Silva, Psicóloga especialista em infância e adolescência.